quinta-feira, 12 de abril de 2007

Especulacoes sobre criacao livre

Assim como a evolucao, acredito que a arte e as grandes descobertas também possam ser fruto de mutacoes randomicas. Só que as mutacoes aqui nao seriam entre genes mas entre idéias.

Criar algo novo e grandioso geralmente nao eh tarefa simples e algumas vezes mera obra do "acaso", como a suposta maca (refiro-me a fruta, nao tenho til nem cedilha) que deu a Newton o insight sobre a teoria da gravidade . Mas quero me concentrar aqui no acaso num nível mental, ou seja, as "macas" que caem do nível incosciente pro consciente. A mente humana ainda é um grande mistério, e o maior deles é o incosciente. É difícil prover uma definicao prática pra incosciencia, mas pra discussao que se segue, consideremos a incosciencia um super-conjunto da consciencia o qual o complento nos é escondido, e apenas sob condicoes especiais temos acesso. Exemplos de condicoes especiais seriam os sonhos, momentos de extremo stress emocional, variantes de mesmerismo, alucinógenos e etc. Geralmente esses raros "eventos do incosciente", como os sonhos, geram insights e idéias que dificilmente seriam concebidos num nível consciente. Por isso muitos artistas no decorrer da história recorreram as drogas com o intuito de fazer rolar a roleta do incosciente e ver que sai de bom.

A estética a muito é estudada como disciplina isolada. Mas o que acontece na prática é que a criacao ainda é muito ligada a ética, o que é um reflexo do papel consciente da criacao. Mas as idéias geradas por "eventos do incosciente" sao aparentemente menos carregadas de ética e portanto se aproximam da nocao de criacao livre. Por criacao nao me refiro apenas a arte mas tudo que pode ser estudado sob um ponto de vista estético. Claro que tudo isso é muito especulativo e chega proximo a religiao, mas há algumas evidencias que o incosciente desempenhou e desempenha um papel importante na criacao. Pra um tratamento, também especulativo mas formal ver "A Theory Concerning Free Creation in the Inventive Arts: Harry B. Levey. Psychiatry, III, 1940, pp. 229–293."

Eu tava estudando uns modelos probabilísticos de geracao de texto e tive uma idéia. Na verdade é bem simples e nao sei se já foi usada com esse propósito. Se trata de achar informacoes e insights uteis em "eventos do incosciente". Claro que eu nao to usando drogas :) A idéia é me deixar escrever sem pausa e sem parar pra pensar, como se cada palavra viesse de um lancamento de dado onde o numero de faces se iguala ao numero de palavras no meu vocabulário. A tendencia de cada escolha está aparentemente relacionada a uma série de fatores como cultura, personalidade, recencia de experiencias e contexto. Por isso a distribuicao nao eh uniforme, e se o exercicio for feito correta e disciplinadamente eu acredito que a atribuicao de probabilidades a cada palavra seria feita em parte pelo incosciente. Eu só fiz uma vez e o resultado foi interessante, talvez eu poste aqui depois. A principio parece nao haver conexao entre as palavras até que vagarosamente a ordem no caos comeca a emergir revelando coisas interessantes. Suponho que um modelo gerativo de texto (como o de Yule-Simons) extendido com memória poderia representar bem esse fenomeno. Claro que mesmo colhendo várias amostras dessa experiencia com individuos diferentes seria muito dificil devido a subjetividade do tema, avaliar em que grau o texto foi gerado pelo inconsciente ou nao. Uma das propriedades interessantes mas que intuitivamente ja esperada foi uma tendencia na escolha de palavras relacionadas a experiencias recentes e contexto. Talvez seja a mesma coisa com os sonhos. Apesar de os sonhos aparentemente serem colecoes de cenas randomicas, imagens associadas em algum grau com eventos recentes sao aparentemente usadas com uma maior probabilidade.

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