sexta-feira, 27 de abril de 2007

Normalidade

Hoje eu comecei um curso avancado de Alemao na Universidade. Na verdade já fiz um extenso curso antes, há um ano atrás, mas o curso na Universidade tava bem barato e o horário é perfeito.

No primeiro dia é sempre aquele blabla, qual teu nome, de onde veio, o que faz e etc...O carinha que tava do meu lado é Palestino. No meio da conversa, a professora falou que conhecia alguem da Palestina e logo se estava falando sobre como é viver num lugar onde, apesar de toda a heranca histórica, a ameaca do terror é constante. O carinha disse: "Pra nós é a normalidade." Claro, a professora e os outros alunos, todos europeus, ficaram notoriamente chocados. Deu pra ler na face de cada um frases como:

"Como é possível ser normal viver num lugar onde se sai e nao se sabe se volta?"
"Como é possível ser normal viver num lugar onde se manda as criancas pra escola sem se saber se elas retornarao em seguranca?"

Talvez o único que nao mostrou espanto tenha sido eu. Eu entendo perfeitamente o que ele quer dizer. To exagerando?!

Quando em Sao Luis, toda vez que saio, antes de chegar em casa paro o carro no comeco da rua e ponho luz alta pra ver se nao tem ninguem a espreita. Toda vez que ouco os cachorros latindo a noite, me levanto (nao so eu) pra averiguar. Em comparacao a países com similar nível de desenvolvimento, o Brasil é o país com maior número de carros blindados circulando. A lista é longa e distinta...

É a normalidade amigo, nao deveríamos, mas já nos acostumamos e de certa forma até aceitamos a viver com a ameaca diária da desgraca. E o que é pior, já incorporamos, já é quase cultural.

Enquanto isso tudo transcorre normalmente:

Após chuva, aeroportos de SP têm mais de 30 atrasos
Família seqüestrada em Campinas receberá apoio psicológico
OAB apóia afastamento de magistrados investigados pela PF

(Notícias de hoje no topo da página da UOL )

domingo, 22 de abril de 2007

507 anos

Eu nao me envergonho de ser brasileiro, pelo contrário, até acho que tenho um bom nível de sentimento patriótico, mas me envergonho do Brasil.

O que adianta ter uma natureza fantástica se ninguém se responsabiliza por ela? O que adianta sermos um povo alegre, se somos ao mesmo tempo culturalmente corruptos...? Claro, ha sempre as excessoes, mas geralmente as excessoes, apesar de louváveis, na prática nao fazem muita diferenca. Os outros argumentos eu deixo com os noticiários.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Frutas e Legumes

Esse foi o tema que rolou durante o almoco de hj. Depois de muito debate a conclusao eh que nao parece ser trivial extrair um conjunto confiável de atributos pra determinar quando determinada coisa é fruta ou legume. Parece ser um daqueles exemplos de categoria difusa.

Sao interessantes os temas que rolam durante o almoco... ontem foi o que mesmo?! Ah...rsrsrs. Um amigo tava me explicando que depois da segunda guerra houve uma grande escassez de comida na Alemanha de forma que era meio comum neguinho comer gato e cachorro. Pros gatos eles usavam o codinome de "coelho de teto" :) Só pra esclarecer, achei engracado o nome, nao a situacao.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Lancando dados

Abaixo o resultado do primeira exercício descrito no post passado.

"Instabilidade, caos, escrever por escrever, teclas martelando implacavelmente, consolidando idéias, disfarcando desejos, concretizando distúrbios. A arte pura brotando do improviso, idéias se formando provindas de combinacoes probabilisticas, distribuicoes, estimacoes de parametro, inferencias nascendo do inconsciente.

O confronto com a natureza humana onde nao há perfeicao mas somente feiura e atomos. Deixa ir, deixa correr, ve ate onde vai e veras que nao vai a lugar nenhum, somente retornar ao mesmo ponto sem motivo ou propósito, o símbolo do infinito se formando, o etorno retorno, "there and back again".

Eventos condicionando outros, causa e efeito, correlacoes, dependencia e independencia, intangibilidade da verdade, somente sombras e névoa."

O número de vírgulas sustenta o fato de aparentemente nao haver muito tempo pra prover relacoes entre as palavras, em algum momento elas acontecem, outras nao. As conclusoes eu deixo em aberto.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Especulacoes sobre criacao livre

Assim como a evolucao, acredito que a arte e as grandes descobertas também possam ser fruto de mutacoes randomicas. Só que as mutacoes aqui nao seriam entre genes mas entre idéias.

Criar algo novo e grandioso geralmente nao eh tarefa simples e algumas vezes mera obra do "acaso", como a suposta maca (refiro-me a fruta, nao tenho til nem cedilha) que deu a Newton o insight sobre a teoria da gravidade . Mas quero me concentrar aqui no acaso num nível mental, ou seja, as "macas" que caem do nível incosciente pro consciente. A mente humana ainda é um grande mistério, e o maior deles é o incosciente. É difícil prover uma definicao prática pra incosciencia, mas pra discussao que se segue, consideremos a incosciencia um super-conjunto da consciencia o qual o complento nos é escondido, e apenas sob condicoes especiais temos acesso. Exemplos de condicoes especiais seriam os sonhos, momentos de extremo stress emocional, variantes de mesmerismo, alucinógenos e etc. Geralmente esses raros "eventos do incosciente", como os sonhos, geram insights e idéias que dificilmente seriam concebidos num nível consciente. Por isso muitos artistas no decorrer da história recorreram as drogas com o intuito de fazer rolar a roleta do incosciente e ver que sai de bom.

A estética a muito é estudada como disciplina isolada. Mas o que acontece na prática é que a criacao ainda é muito ligada a ética, o que é um reflexo do papel consciente da criacao. Mas as idéias geradas por "eventos do incosciente" sao aparentemente menos carregadas de ética e portanto se aproximam da nocao de criacao livre. Por criacao nao me refiro apenas a arte mas tudo que pode ser estudado sob um ponto de vista estético. Claro que tudo isso é muito especulativo e chega proximo a religiao, mas há algumas evidencias que o incosciente desempenhou e desempenha um papel importante na criacao. Pra um tratamento, também especulativo mas formal ver "A Theory Concerning Free Creation in the Inventive Arts: Harry B. Levey. Psychiatry, III, 1940, pp. 229–293."

Eu tava estudando uns modelos probabilísticos de geracao de texto e tive uma idéia. Na verdade é bem simples e nao sei se já foi usada com esse propósito. Se trata de achar informacoes e insights uteis em "eventos do incosciente". Claro que eu nao to usando drogas :) A idéia é me deixar escrever sem pausa e sem parar pra pensar, como se cada palavra viesse de um lancamento de dado onde o numero de faces se iguala ao numero de palavras no meu vocabulário. A tendencia de cada escolha está aparentemente relacionada a uma série de fatores como cultura, personalidade, recencia de experiencias e contexto. Por isso a distribuicao nao eh uniforme, e se o exercicio for feito correta e disciplinadamente eu acredito que a atribuicao de probabilidades a cada palavra seria feita em parte pelo incosciente. Eu só fiz uma vez e o resultado foi interessante, talvez eu poste aqui depois. A principio parece nao haver conexao entre as palavras até que vagarosamente a ordem no caos comeca a emergir revelando coisas interessantes. Suponho que um modelo gerativo de texto (como o de Yule-Simons) extendido com memória poderia representar bem esse fenomeno. Claro que mesmo colhendo várias amostras dessa experiencia com individuos diferentes seria muito dificil devido a subjetividade do tema, avaliar em que grau o texto foi gerado pelo inconsciente ou nao. Uma das propriedades interessantes mas que intuitivamente ja esperada foi uma tendencia na escolha de palavras relacionadas a experiencias recentes e contexto. Talvez seja a mesma coisa com os sonhos. Apesar de os sonhos aparentemente serem colecoes de cenas randomicas, imagens associadas em algum grau com eventos recentes sao aparentemente usadas com uma maior probabilidade.