sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Tirando a poeira

Manter o blog atualizado nao é tarefa fácil, e apesar de ter centenas de assuntos para falar, quase sempre aparece alguma coisa mais urgente. Eu evito transformar o blog num diário e prefiro falar sobre assuntos mundanos sob o meu ponto de vista, mas outubro foi um mes especial, e sendo assim, eu me permito falar um pouco do que andei fazendo nesse mes.

Além de outras coisas que falarei mais na frente, comecei o mes fazendo viagens bastante interessantes. Primeiro fui a bela Ilha de Re na Franca, por conta de um curso de verao em aprendizagem de máquina, onde tive oportunidade de me atualizar e conhecer pessoas bem interessantes de todas as partes do mundo;

uma semana após chegar da Franca, tirei uma semana para cumprir uma velha promessa e visitar velhas amigas na Lituania. Eu precisaria de uns dois posts para falar a respeito, um para cada viagem, mas a Lituania foi particularmente interessante, pois eu pude imergir num país pós-uniao soviética, e ver que apesar da imensa riqueza cultural, os países do leste europeu ainda sao extremamente pobres se comparados a países como Alemanha, Franca e Espanha, por exemplo. A maioria desses países só conseguiram sua independencia no incicio dos anos 90, mais ou menos na mesma época que o muro de Berlim caiu e a Alemanha foi reunificada. Eu só posso imaginar a quantidade de mudancas drásticas que estava ocorrendo na Europa nessa época, um período excitante com certeza. A minha amiga Edita foi uma fantástica guia e em poucos dias pude conhecer os principais pontos do país. Apesar do país ser pequeno (o estado do maranhao é mais ou menos 5 vezes maior), tem paisagens de contos de fadas, uma identidade muito forte possuindo inclusive língua própria, além de uma história fascinante.


Assim que voltei meu pai chegou para me visitar. Uma grande alegria com certeza, pois a minha família me faz muita falta. Tentei fazer o mesmo que a Edita fez comigo e visitei com meu pai alguns dos pontos mais badalados da Alemanha como: Hamburgo, Berlin, Heidelberg e Frankfurt. Além disso fomos a Strassburg na Franca. Em cada uma dessas cidades aproveitei para reencontrar grandes amigos que fiz durante minha estadia aqui até entao.

Deixei meu pai no aeroporto e de lá segui direto para Karlsruhe, onde fui apresentar um artigo na conferencia internacional em Web Semantica (ISWC 2008), uma boa evidencia da relevancia da minha pesquisa até entao, dado que a ISWC é a mais renomada e importante conferencia na área. Fiz vários contatos importantes e conheci grandes nomes na área.



Outubro marcou tres anos que estou aqui na Alemanha, e apesar de ter pensado várias vezes em escrever um diário, nunca o fiz, mas os momentos mais fortes tenho claros na cabeca, como o dia em que cheguei:

03.10.2005 – No feriado nacional da reunificacao Alema eu chego, ainda sentindo o nó na garganta de tudo que deixei pra trás e o medo natural de todo um novo mundo de incertezas que se levantava na minha frente. Para a minha felicidade dividia uma casa com mais dois estudantes estrangeiros, um proveniente do Chile e o outro de Camaroes, que estavam na mesma situacao que eu e dessa forma se tornaram quase que imediamente a minha nova família naquela terra estranha. Nesse mesmo dia resolvemos caminhar pelas redondesas, desertas por causa do feriado, e fomos abordados logo de cara pela polícia que com a mao na pistola pediu nossos passaportes. Com excecao do Camaronense ninguem mais falava alemao, entao o momento foi um pouco tenso pois nao sabíamos o que se passava e o que deveríamos fazer, mas Pouokam (de Camaroes) nos explicou do que se tratava e por sorte todos carregavam seus devidos passaportes. Nao foi uma impressao muito animadora para o primeiro dia, mas sabia que dali pra frente nao poderia me permitir fraquejar, tinha que me acostumar com o fato de que nao tinha mais volta (pelo menos até terminar o doutorado).


E assim se passaram seis meses de curso de Alemao em Frankfurt. Em Abril de 2006 comecei finalmente meu doutorado em Freiburg. E depois de mais 8 meses em Freiburg, meu professor recebe uma ótima proposta em Hildesheim (Norte), para onde eu juntamente com o meu grupo nos mudamos, e estamos até hoje.

Em Outubro eu também fiz 30 anos. O aniversário foi no dia da minha apresentacao na conferencia, entao nao pude fazer nenhuma festa, mas a Karen e o Alex, dois magníficos amigos que tenho, dirigiram 1 hora numa chuva torrencial para me resgatar da conferencia de forma que pudéssemos pelo menos jantar juntos.


Putz, 30 anos... Nunca pensei que essa idade um dia ia chegar, e querendo ou nao, a adultice vem com ela. Eu olho para os meus amigos, com excecao dos que trabalham comigo, pois estao na mesma situacao que eu, e quase todos já estao casados, alguns inclusive já até divorciados ;) Me dá um frio na barriga, mas eu sei que geralmente o caminho científico cobra o seu preco atrasando algumas coisas também importantes na vida do ser humano, como constituir família por exemplo, mas isso está na minha lista e eu espero nao demorar muito mais para que esse e outros planos se concretizem. Continuo sendo um otimista e sonhador, mas o que muda é a dose de sobriedade que a idade madura traz. Mas se alguém me perguntar qual foi a coisa mais importante que mudou com a idade, eu diria aprender a dar mais valor e nunca esquecer do sorriso de crianca, pois sorriso de crianca é puro e descarregado de malícia.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O lema está errado

Eu estava me preparando para escrever sobre a "singularidade tecnológica", um tema deveras interessante que serve como exercício para vislumbrar um futuro cada vez mais provável, onde o mundo é dominado por máquinas inteligentes, cenário antes imaginável apenas em contos de ficcao científica. Já tinha até delineado todo o post na cabeca ontem a caminho de casa, mas percebi que se eu realmente quiser falar sobre outros temas que nao política brasileira eu tenho que parar de ler os noticiários.

Poucos países do mundo humilham tanto os cidadaos honestos como o Brasil. Dados alguns acontecimentos recentes que me fizeram sentir assim, humilhado, eu me sinto na obrigacao de me defender.

O referido acontecimento é o caso do tal banqueiro, quero dizer bandido, do banco Opportunity que tem o potencial de ser o maior escandalo de corrupcao do país. Eu acho que nao preciso falar muito do caso, já que deve ser um dos assuntos mais comentados em jornais e revistas no momento, e sendo assim basta dizer que a lista de crimes desse cidadao e agregados é longa e distinta, onde as somas desviadas sao dignas de jogos de loterias. Só para dar um exemplo, depois do desfecho da investigacao foi oferecido 1 millhao de reais a um delegado da PF para que o nome do acusado e de alguns familiares fossem tirados do inquérito. Pois bem, o fato é que a polícia federal fez um trabalhdo impecável de investigacao, coletando provas praticamente infalíveis, inclusive de áudio e vídeo. Os suspeitos foram presos, com direito a algema e tudo mais, procedimento normal a qualquer bandido, ou nao?! O interessante é que ele foi preso duas vezes, sob diferentes acusacoes, e nas duas vezes foi solto. É óbvio que os peixes grandes sabem que se ele for preso ele vai jogar m**** no ventilador sujando muita gente. E se a mídia trouxe as prisoes ao público melhor ainda, pois serve como exemplo, bom exemplo diga-se de passagem. Veja bem, nao estamos falando de especulacao, mas sim de uma investigacao séria que levou 4 anos e culminou em provas praticamente inquestionáveis. O tratamento que foi dado aos acusados foi o mesmo que se dá a qualquer bandido, e sendo assim é difícil de entender porque a PF foi tao criticada pelo (des)governo. Na verdade eu acho que sei, mas eu digo mais na frente.

O estranho é que em vez de bater palmas à operacao da PF, o nosso presidente criticou!!!! "A PF exagerou no tratamento aos acusados", disse ele em privado. Isso para mim é coisa de quem tem o rabo preso.

O pior de tudo é que com tantas leis obsoletas para serem alteradas na Constituição, eles estao preocupados em alterar uma que nao constranja pessoas devidamente investigadas e acusadas de desvios de recursos públicos!! É sempre um desafio seguir a lógica desse pessoal, mas se eu entendi direito, um cara que rouba, prejudica milhoes de pessoas roubando-lhes dinheiro e desfalcando os cofres públicos nao pode mais sofrer constrangimento!

Agora ficou fácil de ver porque a PF foi criticada. Porque quando chegar a hora dos políticos defensores dessa lei, eles nao precisarao passar pelo "corredor polones". Eu nao vejo outro motivo para o estabelecimento dessa lei risivel e humilhante aos cidados de bem.

A nova lei vai ser pautada nas seguintes prerrogativas:

1- O acusado que se sentir ofendido por ter sido algemado pode entrar como uma acao contra a autoridade;

2- O acusado que se sentir ofendido de ter sido exposto à mídia também poderá entrar com uma acao;

3- Nao poderá haver nenhum vazamento de informacao nas acoes de investigacao da PF e outros setores.

E o que que acontece aos cidadaos honestos que assim como eu se sentem constrangidos com a burrice, estupidez e canalhice dos políticos por trás dessa lei?! E o mais importante, o que acontece aos cidadaos que foram lesados pelos crimes cometidos?! É triste "viver" num país onde bandido tem mais direito que gente honesta.

Eu de repente comecei a pensar no lema usado pelo (des)governo do Brasil: "Sou Brasileiro e nao desisto nunca!". Chega a ser até romantico. Um energético moral para os momentos difícies.

1 - Nao se pode mais sair de casa tamanha é a violencia;

Mas quer saber: "Sou Brasileiro e nao desisto nunca!"

2 - Num hospital público do Pará morreram recentemente 54 crianças em um mes- 12 delas em tres dias;

Mas eu bato no peito e digo: "Sou Brasileiro e nao desisto nunca!"

3 - O casal Garotinho junto com outros agregados foram recentemente acusados de improbidade administrativa e desvio de verbas públicas do Projeto Saúde em Movimento — o total desviado é próximo de R$ 234 milhoes.

Mas eu "Sou Brasileiro e nao desisto nunca!"

4 - O brasileiro está entre os piores do mundo em matemática.

Mas nao importa: "Sou Brasileiro e nao desisto nunca!"

A minha conclusao pessoal é: "Sou Brasileiro e nao desisto nunca!" = "Dar murro em ponta de faca". Portanto eu desisto, e os convido a desistir junto comigo. Desistamos de acreditar nos políticos do Brasil. Sabem quantas pessoas haviam hoje para protestar durante o depoimento do banqueiro bandido?! Uma!!! Olhem para a Argentina, nossa vizinha, e vejam a imensidao de pessoas que está indo as ruas protestar contra o aumento dos impostos. Sigamos esse exemplo e protestemos, da forma que pudermos, mas protestemos.

Desistamos de esperar pelos nossos políticos.

Recentemente ajudei voluntariamente, como interprete, um grupo de jovens brasileiros do nordeste que estao passando o mes aqui, os quais desenvolvem projetos sociais no nordeste patrocinados por uma diocese da cidade onde moro que é ligada a obra Kolping. Um dos principais benefícios trazidos pelo projeto foi a construcao de cisternas em algumas cidades do sertao nordestino. Os nordestinos traziam cartas e mais cartas de agradecimento, pois as cisternas mudaram suas vidas. Eu tenho a impressao que em algumas cidades do Brasil, os prefeitos passam mandatos inteiros sem fazer absolutamente nada pela cidade.

É dificil mensurar a vergonha que senti nesse momento. A vergonha de ver o quanto se pode fazer com tao pouco e que mesmo o tao pouco nao é feito pelos políticos, e nao é por falta de dinheiro, mas sim por pura canalhice. Conversando com um dos financiadores do projeto, ele me disse que além desses políticos nao ajudarem em nada, eles ainda tomam para eles a bem feitoria dos outros e usam como propaganda eleitoral... "é amigo, vergonha alheia é só o que eu sinto o tempo todo ".

O pior de tudo foi quando um dos mais pobres do grupo tentou me dar 10 euros do próprio bolso para comprar um aparelho digital de medir pressao sanguínia para a sua comunidade, pois segundo ele "o prefeito nao liga muito para os postos públicos de saúde". O engracado é que ele nao disse isso num tom de censura ou reclamacao, mas num tom de conformacao. A mensagem que tirei disso é que ele também desistiu, desistiu de esperar, desistiu de confiar e decidiu fazer por conta própria. Sem querer me fazer de bom samaritano eu me ofereci para comprar o aparelho e vi que nao precisamos esperar pelos políticos para fazer o pouco que para muitos é muito.

Desistamos dos políticos, mas nao do nosso povo.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

O grito

Na Alemanha, assim como em todos os países e todas as culturas, há aspectos positivos, negativos e simplesmente diferentes. Eu ainda vou falar mais sobre esses contrastes em outra oportunidade, mas o que eu acho mais interessante de notar é que enquanto no Brasil o sistema social nao funciona direito, apesar do povo ser extremamente social, aqui o sistema social funciona extremamente bem, apesar do povo ser (em geral) extremamente individualista. Mas individualismo a parte, a Alemanha é um país onde os bons exemplos sao resguardados com unhas e dentes. Há quem diga que isso ocorra como uma compensacao pelos erros da segunda guerra, mas eu nao sei se o argumento é genérico o suficiente. Seja como for, eu selecionei algumas estorinhas para contar onde eu sou ora coadjuvante, ora protagonista, para exemplificar o culto do bom exemplo pelo povo alemao.

Eu lembro que um dos requisitos para poder se matricular na Universidade no início do meu doutorado era fazer um plano de saúde. Aqui há dois tipos de plano de saúde, um subsidiado pelo governo (mais barato) e os privados, naturalmente mais caros. Geralmente estudantes universitários podem fazer o plano do governo, mas havia uma nova regra em vigor na época na qual estudantes de doutorado só podiam fazer plano privado. Mesmo sabendo disso eu fui no prédio do plano de saúde subsidiado pelo governo para melhor me informar e saber se a tal regra realmente já havia entrado em vigor. Para a minha tristeza era o caso, o que queria dizer que eu teria que procurar rapidamente um plano privado para poder me matricular. Isso representava uma certa dor de cabeca para mim, pois além do plano privado ser mais caro, eu nao tinha a menor idéia de faixas de preco e custo benefício. Ao sair do prédio eu encontrei um amigo mexicano que tinha conhecido recentemente num evento do DAAD (orgao que oferece bolsas de estudo na Alemanha) e que estava mais ou menos na mesma situacao. O interessante é o que o mexicano tinha conseguido fazer o plano e eu nao. "Hum...tem alguma coisa errada aqui", pensei. O mexicano me aconselhou a falar com outra pessoa e decidi seguir o conselho. Para minha surpresa, foi só trocar de atendente que eu consegui fazer o plano. Para falar a verdade, a atendente nao me perguntou se eu era estudante de doutorado, mas como eu apresentei a carta de aceitacao da Universidade e lá constava que eu tinha sido aceito para o programa de doutorado, eu achei que nao havia necessidade de dizer nada. Muito bem, feliz da vida eu volto para a Universidade para pegar o restante da papelada e finalmente me matricular formalmente na Universidade. Na época eu estava dividindo uma sala com estudantes de outros grupos de pesquisa para os quais eu acabei comentando que tinha feito o plano de saúde e estava de saída para fazer minha matrícula. Eles me perguntaram qual tinha sido o plano e eu falei, no qual um deles falou: "Mas tá errado, tu nao pode fazer esse plano sendo doutorando". Eu falei: "É mas ela nao falou nada entao aparentemente tá tudo certo". Ele rebateu: "Deve ter havido um erro, eu vou ligar para lá." Ai eu falei: "Nao te preocupa com isso, deixa que eu resolvo". Na verdade para mim já tava tudo resolvido, eu só queria me matricular e evitar a dor de cabeca de procurar um plano sem ter referencias. O cara me ignorou e comecou a ligar, nessa hora eu pensei: "mas que filho da p*** intrometido". Ele explicou a situacao e realmente a atendente nao tinha atentado para o fato de que a carta mencionava o fato de eu ser doutorando e sendo assim eu devia voltar lá para cancelar o recém feito seguro. Apesar de ele estar certo e eu errado, eu fiquei por muitos dias p*** com esse cara por causa do intrometimento. Alguém pode dizer que eu nao tinha culpa pois o erro foi da atendente, mas se omitir também é errado e sendo assim no final eu estava errado.

Grito nr.1. Quando se está errado engolir um ou outro sapo faz bem, contanto claro que eles sirvam para que os erros nao sejam mais cometidos. E aqui caros leitores, eu já engoli alguns. Assim que comecei a andar de bicicleta aqui eu nao tava muito interado das regras de transito para ciclistas e estava pedalando à noite numa calcada só para pedestres. O interessante é que tanto a calcada quanto a rua estavam desertas, com um fluxo esparso de carros. Um desses esparsos carros passou e me viu pedalando na calcada. O motorista parou o carro e decidiu gritar comigo pelo fato de eu estar pedalando numa área só para pedestres. "Essa área é só para pedestres!!!!". Toda a minha brasilidade veio a tona e o primeiro pensamento foi:"Vai te lascar!! ":) Desculpem minha aparente falta de civilidade, mas felizmente eu só pensei. O que saiu da minha boca na verdade foi:"Desculpe eu nao sabia". O que eu podia dizer afinal?! Eu estava errado e ponto final. Bem, depois disso nunca mais pedalei numa área que nao fosse para ciclistas.

Outro dia eu me atrasei um pouco no caminho para a parada de onibus. Ao ver o onibus chegando eu corri mas o motorista decidiu nao me esperar. O interessante é que 15 metros depois ele parou num sinal de transito, o que me deu o tempo necessário para alcanca-lo. Eu parei na entrada do onibus e pedi para o motorista abrir a porta, no qual ele muito friamente balancou negativamente cabeca. Até hoje quando penso nisso me dá vontade de mostrar o dedo do meio para esse motorista. A culpa é mais uma vez minha por ter me atrasado, e nao tem desculpa de nao saber os horários já que os onibus sao extremamente pontuais e as tabelas de horários estao disponiveis tanto nas paradas quanto na internet. Mas por favor, nao há problema em ser flexível de vez em quando. Eu achei um pouco demais até mesmo para os padroes alemaes, mas o que o motorista queria na verdade era preservar o bom exemplo da pontualidade de forma que outros passageiros nao repetissem o meu "mal exemplo". Na hora eu fiquei p*** com esse motorista e teria lavado a alma mostrando o dedo para ele, mas seria um cara menos civilizado e mais pobre, já que aqui se recebe uma multa ao mostrar o dedo do meio a alguém.

Mais uma com onibus. Eu mais uma vez atrasado vejo o onibus na parada e decido correr. Dessa vez, para a minha surpresa, o motorista resolve me esperar. Eu entro no onibus mostro minha carteira de estudante e passo sem falar nada. Nesse momento o motorista altera a voz e decide me dar uma licao de moral, pois eu nao tinha agradecido por ele ter me esperado. "Ah nao, perai, agora eu mando esse motorista para a casa do c***", pensei. Respirei fundo, e felizmente o que saiu da minha boca foi: "Se esse é o problema entao obrigado". Diplomacia é uma arte na qual eu tenho me apefeicoado. Dessa vez, entretanto, eu nao estava errado, eu nao tinha obrigacao de agradecer, mas ele também nao tinha a obrigacao de me esperar, e além do mais teria sido um bom exemplo para os outros passageiros se eu tivesse agradecido, e portanto no fim o motorista tinha certa razao.

Grito nr.2. Para fechar esse post, uma estorinha que aconteceu recentemente. Eu estava parado na calcada esperando o sinal verde para atravessar a rua quando uma mae com a filhinha para ao meu lado. A mae era bastante jovem e meiga e carregava um sorriso que a deixava ainda mais jovem e bonita. Quase eu pergunto se ela era mae solteira. Eu aqui perdido nos meus pensamentos, quando alguém decide atravessar a rua no sinal vermelho, já que nao tinha nenhum carro a vista. Nessa hora a mae grita: "O sinal tá vermelho!!!!". Sai...!!! Peguei um susto, de repente a mae era qualquer coisa menos meiga. "Eu que nao me meto mais com essa mae, se ela é solteira fez por merecer", pensei. O cara tentou dizer alguma coisa que eu nao entendi, pois ainda nao tinha me recuperado do susto, no qual ela respondeu:"Tu nao tá vendo que tem uma crianca aqui?!". Notem o tamanho do stress só para resguardar a crianca de um mal exemplo. Tirando o stress, ela tá certa, ou seja, a crianca aprende na escola que é errado atravessar no vermelho e de repente tem que se confrontar com o fato de na vida real nao ser bem assim. Nao pude deixar de pensar no famoso quadro "O Grito" de Edvard Munch .


Abrindo um paranteses, eu li a algum tempo atrás uma matéria sobre o fato de pais de alunos de uma escola privada e cara de Sao Luis darem péssimos exemplos ao violarem inúmeras regras de transitos ao buscarem os filhos, causando caos e transtorno na entrada da escola. Tao desperdicando dinheiro, pois ser irresponsável e sem respeito se aprende de graca. Eu já disse antes que no Brasil ser rico nao significa necessariamente ser civilizado?!

Eu já falei sobre a questao dos bons exemplos antes. Nao precisa ser tao extremo quanto aqui, já que isso também deixa o povo constantemente estressado e chato, mas continuo acreditando que o culto ao bom exemplo se traduz numa sociedade mais civilizada.

sábado, 24 de maio de 2008

O Infinito Potencial pt. 2

No último mes nao me restou muito tempo para o blog e daí o porque da demora. Mas vamos retomar de onde paramos e dessa vez sem muito blablabla.

Aparentemente a única forma de sabermos que de fato a chance de se obter caras em lancamentos de moedas é "meio a meio" é repetir o experimento infinitamente, o que para nós é claramente impossível. Em face a esse dilema eu nao pude evitar de lembrar do post "A arte de projetar", onde há uma passagem em que eu leio o horóscopo do meu signo e o mesmo diz para usar a intuicao em face a questionamentos profundos. Aparentemente estamos cara-a-cara com um questionamento profundo e como vimos no último post, apesar da intuicao estar correta, ela nao nos ajuda em nada a explicar o fenomeno de interesse. No mundo real ninguém está interessado em saber que a chance de um paciente de cancer sobreviver a um determinado tratamento é 30% baseado apenas em intuicao ou achismos, nesse caso as respostas tem que ser claras e precisas. Eu pelo menos nao ficaria muito convencido se um médico me dissesse que apesar das estatísticas mostrarem que a chance de alguém sobreviver a um ataque cardíaco é 30%, a intuicao dele diz que na verdade é 80%. Voces ficariam? Sendo assim, eu reescreveria meu próprio horóscopo da seguinte forma: "siga a sua intuicao, mas procure saber o porque e sempre que possível em que grau ela está (in)correta".

Eu nao sou matemático, mas na minha modesta opiniao é na matemática, junto com as artes e a música, que a mente humana mostra toda a sua beleza e grandiosidade. E é justamente gracas a matemática que esse e muitos outros dilemas podem ser resolvidos. A resposta para esse problema se chama A lei dos grandes números, um teorema fundamental da teoria da probabilidade. No nosso caso a probabilidade real de caras nao pode ser observada, pois nao podemos repetir o experimento infinitamente, mas a lei dos grandes números nos diz que na verdade nao precisamos, pois dado que um experimento é repetido várias vezes, a probabilidade observada converge em direcao à probabilidade real conforme o numero de repetições se torna arbitrariamente grande. No nosso caso, isso significa que quanto mais lancamentos da moeda fizermos, mais a razao de caras sob o número total de lancamentos vai se aproximar de 0,5. Isso é tudo que precisamos saber, ou seja, quanto mais "andamos" em direcao ao infinito mais a probabilidade se aproxima da probabilidade real ou teórica. Voltando ao post passado, o fato de ter obtido 80% de caras se deve ao pequeno número de experimentos (10 apenas) que fizemos. Mas se tivéssemos feito 1000 lancamentos da moeda, por exemplo, observaríamos um valor muito mais próximo de 50%. Portanto, da próxima vez que alguém lhe disser que 80% das pessoas que tomam jucara antes de dormir morrem de indigestao, procure saber o número total de pessoas sob o qual essa porcentagem foi calculada antes de decidir tomar ou nao jucara a noite.

A idéia de espiar o que acontece em esferas além da observancia humana é maravilhosa e tem diversas aplicacoes.

Um exemplo é o comércio eletronico. Quando fazemos uma compra pela internet com cartao de crédito, exigimos que a transacao seja absolutamente segura no sentido de nao termos o nosso número interceptado por terceiros mal intencionados. De forma a garantir essa seguranca, o número do cartao é primeiramente codificado ficando ilegível a qualquer um que nao conheca a chave decodificadora (processo conhecido como criptografia) . Portanto, a única forma de ler a informacao original é através de uma chave de decodificacao, a qual geralmente está em posse do provedor dos bens ou servicos sendo comprados. Normalmente essa chave é baseada em números primos, de forma que quanto maior o número mais complexa é a chave e obviamente mais difícil de ser descoberta ela se torna. A grande sacada é que os números primos sao infinitos e sendo assim, temos a garantia de que quando uma determinada chave nao for mais o suficiente segura, poderemos sempre escolher uma de maior complexidade. Mais uma vez a idéia do infinito potencial se faz presente, mas a pergunta óbvia é: como podemos saber se os números primos sao infinitos uma vez que nao podemos observar a infinute dos números naturais? Essa é uma pergunta tao antiga quanto o período Helenístico da grécia antiga. A resposta é de igual antiguidade datando de 300 AC e foi dada por Euclides na forma de uma prova matemática onde ele usa argumentos simples mas infalíveis para provar que de fato há infinitos números primos. É interessante ver a invariancia conceitual das provas matemáticas, ou seja, elas se constituem em verdades tao robustas que se mantém invariáveis independente do passar das eras.

Outro exemplo do uso do infinito potencial é o cálculo da área do círculo. Suponha que a fórmula da área do círculo ainda nao foi descoberta, mas voce é engenheiro e recebeu uma proposta de trabalho milhonária envolvendo a construcao de estádios de futebol em forma de círculo. Obviamente voce precisaria calcular a área dessas estruturas de forma a poder estimar a área reservada para assentos, camarotes e etc.. E agora José? Vai esperar alguém aparecer e lhe dar a fórmula de mao beijada? Claro que nao, voce pode nao saber como calcular a área do círculo mas sabe como calcular a área de um triangulo, quadrado ou de um polígono arbitrário, por exemplo. Sendo assim, voce tem a brilhante idéia de sobrepor um triangulo dentro de um circulo e tentar aproximar a área do círculo através da área do triangulo, já que a área do triangulo representa uma porcao da área do círculo (vide figura abaixo). Voce nota porém, que essa seria uma aproximacao bastante pobre já que grande parte do círculo ainda se encontra fora do triangulo. Depois disso, voce pensa que de repente seria melhor usar um quadrado, já que a área do quadrado representa uma maior regiao dentro do círculo em comparacao a área do triangulo, resultando assim numa melhor aproximacao. Isso lhe dá entao o insight que faltava para notar que se continuar a aumentar o número de lados do polígono, terá aproximacoes cada vez melhores. Dessa forma, quanto mais o número de lados se desloca para o infinito, mais a área do polígono se aproxima da área do círculo e sendo assim, podemos ver um círculo como um polígono de infinitos lados. O interessante é que depois de algum ponto a aproximacao já é precisa o suficiente para qualquer aplicacao prática que venhamos a ter, apesar de termos a garantia que sempre poderemos ter melhores aproximacoes. Essa é a idéia por trás da fórmula que aprendemos na escola para o cálculo da área de um círculo ou disco a propósito, e teria sido bem mais fácil de entender se o professor tivesse mostrado como a fórmula foi derivada. A figura abaixo ilustra esse conceito.


Como disse antes, o assunto é bastante extenso e ainda teria muitas outras coisas que eu gostaria de falar a respeito, mas no momento vou dar uma pausa para falar de outros temas. Mas garanto que esta nao será a última vez que falarei sobre o conceito intrigante que o infinito representa.

domingo, 13 de abril de 2008

O Infinito Potencial pt. 1

Apesar de no momento nao poder escrever com a regularidade que talvez gostaria, vou fazer um esforco pra terminar apropriadamente a nossa saga. O infinito é na verdade um assunto bastante extenso e apesar de interessante, corro o risco de passar muito tempo com ele, portanto nao dá pra me comprometer muito. Mas se alguém quiser realmente se aprofundar, aconselho dar uma boa espiada num bom livro de "Análise" (um dos ramos da matemática), pois como Hilbert (um dos grandes matemáticos do século passado) mesmo disse: "Em certo sentido, a Análise nao é nada menos do que uma sinfonia sobre o tema do infinito". Alerto no entanto que nao é lá o tipo de leitura que se faz antes de dormir. Seja como for, se conseguir despertar algum interesse com esses poucos posts, já me dou por mais que satisfeito.

Depois de esgotar o usual repertório de besteirol na volta de um show de rock semana passada, eu tentava convencer um amigo da relacao entre a estrutura do Universo e a música, usando como evidencias a hipótese de Riemann e a teoria das cordas. Para quem nao conhece, a hipótese de Riemann é um dos mais famosos problemas nao resolvidos da matemática. Ela prove uma interpretacao geométrica e elegante para a distribuicao dos números primos, onde eles correspondem aos zeros de uma funcao matemática chamada "zeta" e aparecem na forma de frequencias harmonicas. Já a teoria das cordas é um esforco teórico no sentido de acomodar as disparidades entre a relatividade geral e a física quantica. Na teoria das cordas, os átomos nao assumem mais a forma de partículas, mas cordas que vibram numa certa frequencia, como as cordas de um piano por exemplo. Conversa meio torta pra um final de noite, mas como dito antes, já nao tinha muito mais sobre o que falar. O meu amigo me rebateu dizendo uma coisa interessante que serviu pra relembrar o fato de que as vezes a nossa intuicao nao é suficiente: "Cuidado, a gente tem a mania de sempre procurar relacoes com coisas que nos sao familiares". Nesse caso particular ele se referiu a música, mas a mensagem é mais ampla. Ela implica no fato de termos a tendencia de querer que tudo faca sentido segundo a natureza tal como a observamos, esquecendo que o Universo é muito mais amplo e complexo do que esse pequeno subconjunto chamado Terra. A teoria do Big Bang por exemplo. Pelo fato de tudo que nos cerca ser finito, se desenvolveu uma teoria para o Universo segundo a qual ele também tem um comeco e fim (na verdade a teoria é mais voltada para o comeco). Nao que a teoria esteja certa ou errada, nao há como saber, mas o fato dela ser amplamente aceita, se deve em parte à sua concordancia com a idéia de finitude. Tenho que admitir que parece meio bizarra a idéia do Universo nao ter um comeco ou fim. Tentem pensar a respeito como exercício. Mas porque seria tao difícil aceitar tal idéia afinal? O Oráculo responde: "Tudo que tem um comeco, tambem tem um fim Neo" (cena do filme "Matrix Revolutions") ;)

Sendo assim, parece nao fazer muito sentido eu dizer que o infinito representa um papel importante na natureza já que no nosso mundo ele nao acontece. De fato, depois do tradicional blablabla inicial estamos finalmente chegando ao ponto. O que talvez faca mais sentido para nós, seja a idéia de um infinito potencial, ou seja, um infinito que pode nao necessariamente acontecer, mas que tem o potencial de acontecer. A diferenca é sutil mas importante. Tomemos um andarilho hipotético como exemplo. Se desconsiderarmos limitacoes físicas e biológicas, independente de quantos passos ele tenha dado, ele sempre será capaz de dar mais um passo. A mesma coisa com o conjunto dos números naturais, por exemplo, pois independente do número que escolhermos, esse número sempre terá um sucessor. Notem que aqui nao importa muito o fato de nossa natureza nao nos permitir "observar" a infinitude do conjunto, pois o fato de saber que todo número natural tem um "potencial" sucessor já é o suficiente para qualquer uso que venhamos a fazer desses números.

Outro exemplo mais interessante é a probabilidade de caras e coroas em lancamentos de moedas. Vamos trabalhar esse exemplo cuidadosamente de agora em diante. Considerando uma moeda convencional, qual a probabilidade de se obter cara ou coroa em um lancamento aleatório dessa moeda? Sem precisar de nenhum conhecimento prévio em matemática ou teoria da probabilidade, todos diriam "meio a meio", ou nao?! Por que?! O que nos faz acreditar que na verdade é assim? A intuicao nos diz que é assim porque faz sentido que seja assim, ou seja, nao há nada que aparentemente favoreca cara ou coroa, certo? Correto, mas insatisfatório, pelo menos pra mim e espero que pra vcs também. Por que insatisfatório? Digamos que eu tire uma moeda do meu bolso, faca 10 lancamentos e anote o número de ocorrencias de caras e coroas. Considerando que a moeda é justa, ou seja, nao favorece caras ou coroas, eu observo 8 caras e 2 coroas. Peraí, parece ter alguma coisa errada aqui, nós concordarmos que a chance de dar cara é 50% , mas o que o meu pequeno experimento me diz é que a nossa intuicao parece estar incorreta e que na verdade a chance de cara é 8/10 e portando 80%. Temos um pequeno dilema aqui. Para isso existe a investigacao científica, e ela nos mostra que há uma razao mais forte por trás da nossa intuicao, que por sinal está correta. E pra justificar o fato de sabermos que o resultado dessa experiencia boba é meio a meio, precisamos mais uma vez desse carinha chato chamado infinito.

Sei que ainda temos várias perguntas em aberto, mas como em qualquer série, as respostas sao deixadas pro final. Prometo concluir o raciocínio no próximo e último post da saga.

domingo, 16 de março de 2008

O infinito - Prólogo

Como dito antes, cansei de falar de política. Pra falar a verdade nem é o meu tema preferido, apesar de ser divertido se arriscar por outras áreas de vez em quando. Há somente um punhado de assuntos que me dao tanto prazer de falar quanto ciencia. Portanto, esse será o primeiro de uma série de posts sobre temas científicos.

Já estava mais do que na hora de prestar uma justa homenagem ao conceito que emprestou seu nome ao meu blog. Apesar de ser um conceito na maioria das vezes intuitivo e universal, geralmente nao se tem uma idéia clara do seu papel na natureza.

O infinito está simplesmente impregnado no universo, apesar de parecer uma idéia deveras abstrata. Sendo isso verdade, precisa-se de linguagens adequadas para descreve-lo e estudar suas propriedades. Para descreve-lo só vejo duas linguagens: a matemática e a poesia. Já para explorá-lo adequadamente, que me desculpem os poetas, mas só há a matemática. Sem o uso adequado do infinito muitos utilitários do mundo moderno seriam sequer possíveis. Se estiverem curiosos pra saber o porque esperem os próximos posts, por enquanto vamos tentar motivar mais o assunto.

Falando em curiosidade: dados dois conjuntos infinitos A e B, seria possível o conjunto A conter mais elementos que o conjunto B ou vice-versa?! Parece razoável dizer que nao já que os dois tem um número infinito de elementos certo?! Errado, um matemático alemao nascido no século retrasado chamado Cantor, por sinal criador da teoria dos conjuntos, provou que o conjunto dos números reais tem mais elementos que o conjunto dos números naturais, apesar dos dois conjuntos terem infinitos elementos! Nao é maravilhoso quando o nao-intuitivo se prova verdadeiro?!

Pode parecer que nao, mas há incontáveis situacoes onde o infinito acontece e nao há como evitar. Felizmente existem ferramentas matemáticas que permitem lidar com tais situacoes. Eu vou contar, na minha própria versao, uma historinha antiga geralmente contada nas primeiras aulas de cálculo pra motivar a nocao de limites, uma dessas ferramentas.

Um rapaz e uma moca cruzam olhares e nesse momento é despertado um desejo mútuo de se conhecerem. Os dois entretanto sao muito tímidos e hesitam em ir um na direcao do outro. Nao obstante, o corajoso rapaz decide arriscar um passo de cada vez na direcao da garota, de forma que a cada novo passo a distancia entre eles é diminuída em 10%. Nesse sentido, a pergunta seria quantos passos ele precisa dar até chegar na garota.

Infelizmente o rapaz nunca vai chegar, pois ele está fadado a dar infinitos passos, apesar de eventualmente se encontrar em algum momento infinitamente próximo a ela. Se quiser comprovar execute o algoritmo abaixo e verá que o programa vai rodar pra sempre, pois a distancia nunca vai ser igual a 0.

dist := 10 // Pra exemplificar eu assumo que eles estao separados inicialmente por 10 (nao importa a unidade de medida), mas contanto que seja positivo pode-se escolher qualquer número.

enquanto (dist diferente 0) //Enquanto a distancia é diferente de 0 ele continuar a dar passos
do
dist := dist-dist/10; // cada passo diminui a distancia atual em 10%
end

Nao fiquem tao tristes pelo rapaz, na prática isso nao seria tao ruim, pois dependendo da distancia inicial, depois de algumas dezenas de passos a distancia seria tao pequena que ele já teria condicoes de iniciar uma conversa e eventualmente saber se deveria continuar a caminhada ou nao ;)

Portanto meus caros poucos leitores, esperem encontrar nos próximos posts um pouquinho mais sobre este que é um dos componentes fundamentais do modelo de universo que conhecemos.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Uma solucao para o Brasil pt.2

Já que eu comecei vou terminar, apesar de tá com dor de cabeca. Vou até comecar mais cedo por causa dos blockbusters que passam na tv às 20:15, as melhores coisas dos domingos massantes daqui diga-se de passagem. Mas no próximo post quero falar de algo mais interessante, quero falar sobre o infinito sob um posto de vista científico. Já até me alegro a respeito pois o tema me fascina.

Como disse o Josias de Souza em um de seus posts recentes, a democracia do Brasil ainda está na infancia. Nao é difícil de checar a validade da afirmacao. O conceito de democracia pressupoe liberdade e igualdade e portanto implica no princípio de que todos sao iguais perante a lei. Mas na prática as leis brasileiras sao extremamente flexívies quando expostas ao dinheiro, influencia e conveniencia dos poderosos. Em outras palavras, só os pobres e honestos sao iguais perante a lei. Eu nao acho que preciso dar exemplos, mas se mesmo assim alguem insistir, basta ver o iminente escandalo dos cartoes corporativos. Há um site da CGU chamado portal da transparencia, um conceito extremamente democrático temos que admitir, mas assim que as investigacoes ameacaram expor os gastos do presidente e de sua família foi ordenado que as informacoes saíssem do ar por motivos de seguranca. Alguém cheira contradicao no ar?

Pois assim é permeada a nossa democracia, cheia de contradicoes. Outro exemplo é o voto obrigatório. Para o voto ser realmente democrático o direito de escolha tb deveria incluir a opcao de nao sair de casa. Porque é obrigatório entao? Conveniencia claro, pense bem, se o voto nao fosse obrigatório só votaria quem tem consciencia política ou interesses políticos. E portanto, a massa que é quem elege e quem geralmente nao tem consciencia ou interesses políticos, seria mais difícil de ser comprada ou manipulada.

Bom, o ponto que quero chegar é que o Josias tem razao e vislumbro como isso poderia ser usado para o bem. Para quem assistiu o filme tropa de elite, é mais ou menos o que o personagem Neto fez, ou seja, usar o "sistema" contra o "sistema". Usemos entao a infancia de nossa democracia pra disciplinar os políticos rumo ao pensamento coletivo.

Digamos que voce possui um hospital, mas quando voce está doente voce vai para outro hospital pois sabe que o seu tem condicoes precárias. Imagine que vc também possui uma escola, mas o seu filho nao estuda lá pois a qualidade de ensino e infra-estrutura oferecida é péssima. Além disso, voce tem uma empresa de seguranca, mas voce próprio contrata servicos de outra empresa pois a sua nao é eficiente. Meu amigo, voce é o cúmulo da incopetencia. É o que todos diriam ou nao? Esses sao os nossos políticos, apesar de serem os responsáveis pela saúde, educacao e seguranca, eles ou suas famílias usam servicos privados. Pq?! Porque os servicos que eles oferecem nao prestam. E ao fazer isso eles pregam um atestado de incopetencia na testa.

Juntando as pecas

Que se crie algo como "Príncipio de ética política", onde para ser admistrador público em qualquer nível, vereador, deputado e etc., é obrigatório o uso exclusivo dos servicos públicos pertencentes a sua instancia pelo político e seus familiares pelo período do mandato. Já ouco ecoando a contra-argumentacao: "mas isso fere a democracia, pois todos tem o direito da escolha". De fato, mas a nossa democracia mostra ter espaco para tais coisas, e entao usemos isso. E acreditem-me, a longo prazo isso faria a própria democracia amadurecer já que os políticos estariam verdadeiramente mais próximos dos seus "chefes", ou seja, o povo.

Última peca

Como argumentamos no início, os nossos políticos sao movidos por interesses pessoais. Se os seus familiares estudassem em escolas públicas, haveria um interesse direto para a melhoria da escola, beneficiando indiretamente as condicoes de ensino para os outros estudantes. Se os prefeitos e vereadores tivessem que usar o socorrao, nao haveria mais falta de materiais para operacoes de emergencia ou medicamentos básicos. A mesma coisa para qualquer servico público. Alguem poderia dizer que mesmo assim eles se valeriam de sua influencia para obter tratamento diferenciado, mas a diferenca é que isso seria feito diretamente sob os olhos do povo e portanto mais fácil de ser fiscalizado. Além disso, o fato de saber que pra entrar na política tem que cumprir esse princípio de ética, já filtraria de início um monte de candidatos mal intencionados deixando só os que realmente tem algum respeito pelo coletivo.

Claro que é muito improvável que isso venha a ser implementado algum dia, e claro que a idéia tem que ser melhor trabalhada pois ainda tem várias lacunas, mas as contra-argumentacoes pertencem ao leitor.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Uma solucao para o Brasil pt.1

Antes que alguem fale:

1 - "Lá vem o chato falar de novo do Brasil."
2 - "Nao gosta te muda bombom de alho."
3 - "E ainda por cima olha a ousadia do cara, nao é cientista político, economista ou ao menos sociólogo e quer propor uma solucao pro Brasil."

Eu já respondo:

1 - Eu sou chato mesmo, as vezes nem eu me aguento.
2 - O pior é que eu gosto, nao de bombom de alho, mas do Brasil.
3 - Nao sou mesmo, e na minha própria pesquisa tem horas que eu nao consigo achar solucoes pra problemas bem mais simples, mas assim como a música o blog é meu escape (ver post "Conversa fiada"). Entao puxe a cadeira, encha o copo e sinta-se livre pra argumentar. Bem-vindo ao meu bar.

Basta falar sobre política e alguem sai com uma opiniao pré-formada sobre o que deve ser feito para o Brasil deixar de vez a condicao de terceiro mundo. Uns falam que a educacao tem que ser priorizada, outros que mais empregos tem que ser criados, outros que a infra-estrutura tem que ser melhorada, outros que a corrupcao tem que acabar e etc... A lista é longa e distinta, e cada frente leva a uma possível solucao, mas eu quero me concentrar no aspecto político, pois um país que vai bem economicamente nao necessariamente se traduz em um país justo e civilizado, vide China, Índia e o próprio Brasil por exemplo.

Primeiro definimos o problema e depois juntamos os componentes necessários para atacá-lo. Nesse sentido, a primeira pergunta que se deve fazer é: o que leva uma pessoa (principalmente no Brasil) a seguir a carreira política? Eu diria interesses pessoais claro, basta ler os noticiários. Em outras palavras, melhorar a sua vida e a dos seus. Generalizo sem medo, pois o desvio padrao nesse caso é muito pequeno. Como exemplo, vejamos o nosso estado, o Maranhao, um dos estados mais pobres do Brasil. Qual o estereótipo de um prefeito de interior? Casarao, carros importados, geralmente pick-ups 4x4 (por causa da condicao das estradas) e apartamentos na capital para os filhos que geralmente estudam em universidades particulares. As condicoes da respectiva cidade nao mudam, mas o padrao do prefeito e sua família sim e rápido, basta assumir, o que nunca é justificado já que o salário de um prefeito é geralmente calculado com base na renda do município e portanto nao deve ser muito.

Quando o cuidar do público vira um bom negócio, uma legiao de aproveitadores se estabelece e se prontifica a manter o bom negócio funcionando.

Dessa forma o problema tá bem definido, há um ciclo vicioso de interesses pessoais que faz a máquina pública nao funcionar direito, e eu argumento que o que precisamos é de algo que quebre esse ciclo.

Antes de juntar as pecas para atacar o problema precisamos examinar alguns aspectos da nossa democracia, e como eu já to ficando cansado e hoje é domingo e vai comecar um filme bom agora, eu continuo o raciocínio no próximo post.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Big Brother Brasil 2008

Eu nao sou de abrir emails contendo powerpoints, geralmente apago logo, principalmente se nao tem uma explicacao prévia do que se trata. Mas recebi um recentemente que resolvi abrir, por se tratar de um amigo que nao mandaria nada caso nao valesse a pena ser enviado.

Normalmente eu escreveria sobre o assunto sob minha própria perspectiva, mas já que nao conseguiria colocar as coisas de melhor forma, reproduzo o texto aqui na íntegra.

Só quero deixar claro, que apesar de compartilhar da opiniao geral do autor (anonimo), eu nao chequei algumas das informacoes dadas no texto, já que as mesmas pouco interferem na argumentacao, e portanto nao sei a extensao em que sao verdadeiras.
...

Começa mais um BBB BIG BROTHER BRASIL (2008)

Como funciona o ESQUEMA:
29.000.000 (milhões) de ligações do povo brasileiro votando em algum candidato para ser eliminado. Vamos colocar o preço da ligação a R$ 0,30 (trinta centavos) e só. Então, teremos R$ 8.700.000,00. Isso mesmo! Oito milhões e setecentos mil reais, que o povo brasileiro gastou ( e gasta ), em cada paredão!

Suponhamos que a emissora do BBB tenha feito um contrato “50% por 50%”, ou melhor,”meio a meio” com uma operadora de telefonia, ou seja, ela embolsou R$ 4.350.000,00.

Alguém poderia ficar indignado com a emissora e a operadora de telefonia ao saber que as classes menos letradas e abastadas da sociedade, que ganham mal e trabalham o ano inteiro, ajudam a pagar o prêmio do vencedor e, claro, as contas dessas empresas.

Mas o "x" da questão, caro(a) leitor(a), não é esse. É saber que paga-se para obter um entretenimento vazio, que em nada colabora para a formação e o conhecimento de quem dela desfruta; mostra só a ignorância da população, além da falta de cultura e até vocabulário básico dos participantes e, consequentemente, daqueles que só bebem nessa fonte.

Certa está a emissora. O programa BBB dura cerca de 3 (três) meses, ou seja, o “sábio público” tem ainda várias chances de gastar quanto dinheiro quiser com as votações. Aliás, algo muito natural, para quem gasta mais de R$ 8.000.000,00, repito, *** OITO MILHÕES DE REAIS *** numa só noite! Coisa de país rico como o nosso, claro!

Nem a UNICEF (órgão das Nações Unidas para a infância), quando faz o programa CRIANÇA ESPERANÇA, com um forte apelo social, arrecada tanto dinheiro...Vai ver, deveriam bolar um "BBB Unicef". Mas, tenho dúvidas se daria audiência. Prova disso, é que na Inglaterra, pensou-se em fazer um BBB só com gente inteligente. O projeto morreu na fase inicial, de testes de audiência. Qual o motivo do fracasso? O nível das conversas diárias foi considerado muito alto, ou seja, o público não se interessaria.

Programas como BBB existem no mundo inteiro, mas explodiram em audiência em países de 3º mundo... Um país como o nosso, onde o cidadão vota para eliminar um bobão ou uma bobona qualquer... mas não se lembra em quem votou na última eleição...Que vota numa legenda política sem jamais ter lido o programa do partido, mas que gasta seu escasso salário num programa que acredita ser de extrema utilidade para o seu desenvolvimento pessoal e, que não perde um capítulo sequer do BBB para estar bem informado na hora de PAGAR pelo seu voto...

Que eleitor é esse? Depois, não adianta dizer que político é ladrão, corrupto, safado, etc. Quem os colocou lá? Claro, o mesmo eleitor do BBB! Aí, agüente...
- As absolvições dos Renans Calheiros...
- Os Aumentos dos IOFs...
- As Falências dos Sistemas de Saúde...
- As Epidemias de FEBRE-AMARELA...
- Os 40 Ladrões do Ali Babá...

e de quebra...Trabalhando igual a um BURRO mais de 5 (cinco) meses por ano para sustentar nefastas instituições ABSOLUTAMENTE DESACREDITADAS pela sociedade... enfim, estamos no início de mais uma temporada do BBB, sigla que reflete, como nenhuma outra, a PROSTITUIÇÃO de valores de nossa sociedade. Enquanto isso a grande vilã das comunicações continuará se enchendo de glória e dinheiro com o patrocínio de canalhices ao vivo e a cores de 14 candidatos, a um grande prêmio, vitória pela maior habilidade em agirem como DEVASSOS das relações com o próximo.

Enquanto a sociedade der audiência a esse tipo de patifaria televisiva, a falência da família e dos valores morais e éticos não vão mais retroceder. Estejam certos de uma coisa:Os ILETRADOS e os APRENDIZES, vítimas da falência da cultura, da educação e da família, terão dezenas de horas de puro deleite de como ser falso, mentiroso, infiel, hipócrita, leviano, canalha, com todos os derivativos da falta de ética e imoralidade estando à mostra. Mas o contribuinte não deve ligar mesmo, ele tem condições financeiras de juntar R$ 8 milhões em uma única noite para se divertir (?!?!), ao invés de comprar um livro de literatura, filosofia ou de qualquer entretenimento televisivo relevante para melhorar a sua articulação, a sua autocrítica e a sua consciência...
A emissora; Os autores das músicas: “Egüinha Pocotó” e “O Bonde do Tigrão”, sabem muito bem disso; o Gugú e o Faustão também;

Não é maldade nem desabafo.

“A ignorância é a mãe de todos os males”.

...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Um espelho quebrado nunca mais é o mesmo

Para que um espelho se quebre basta que ele caia uma vez, pelo menos na maioria das vezes. Já tentou reparar um espelho quebrado?! Eu já. Comprei cola especial e pacientemente juntei os cacos um por um com o máximo de paciencia e precisao que pude. Até que o arranjo ficou razoável, mas apesar do meu esforco o espelho nunca voltou a ser o que era. O problema é que o lugar da colagem me incomoda, tanto esteticamente, pois o espelho perdeu o aspecto plano e reto refletindo a sua imperfeicao na minha própria imagem, quanto misticamente, pois a impressao de passagem mística entre dois planos se perdeu com a realidade trazida pela rachadura. Além disso a estrutura do espelho ficou obviamente comprometida, a longo prazo pelo menos.

Com o corre-corre do dia a dia, acabava esquecendo da rachadura, mas nao importa, podia passar o tempo que fosse ela continuava lá e vez por outra voltava a me incomodar. Reparar um espelho nao é fácil. Na antiguidade bastaria forjar as partes da superfície de bronze que servia de espelho e poli-las até a rachadura da colagem desaparecer, mas hoje em dia nao dá para fazer isso devido a composicao do espelho que envolve uma camada de prata, alumínio ou málgama de estanho depositada quimicamente sobre a face posterior de uma lâmina de vidro. Isso significa que quando seu espelho quebra voce tem duas opcoes: ou o conserta e se conforma com o fato de que as "cicatrizes" no espelho nunca vao desaperecer ou compra outro. O problema é quando a única opcao que lhe resta é a primeira, aí se aprende rapidamente que um espelho liso nao tem preco.

O conceito esconde uma licao valiosa que está de acordo com a licao tirada do etorno retorno (ver post "Presos num oito deitado"). Em outras palavras, algumas vezes basta deixar o espelho cair uma vez, e por mais que se arrependa do descuido e se lamente, o espelho já vai estar quebrado.

No meu caso eu comprei um espelho novo. Um espelho liso nao tem preco...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Um BOPE para o Brasil

Eu to cansando de falar mal do Brasil. To comecando a me sentir o Diogo Mainardi falando do Lula. Se o Lula é a anta dele, o Brasil é a minha, mas vou tentar mudar de assunto nos próximos posts.

Ao contrário do post anterior onde nao consegui explicar o meu gostar pelo Brasil, já que a quantidade de coisas negativas excede e muito a quantidade de positivas, eu sei muito bem porque gosto do filme tropa de elite.

"Porque aqui nós nao gostamos de policiais corruptos...", segundo disse o capitao Nascimento.

O diretor do filme disse numa entrevista que na escala de valores dele a tortura é pior que a corrupcao. Ora faca-me o favor. Tortura é pior do que negligenciar saúde e deixar gente morrer em fila de hospital? É pior do que sucatear as escolas e Universidades de forma a nos dar um dos últimos lugares junto com países muito mais pobres no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa)? Pior do que roubar dinheiro de merenda escolar e deixar criancas passarem fome? Pior do que ficar a merce do crime todos os dias porque a policia é sucateada, mau-remunerada e desequipada?

Tinham que criar um BOPE só para políticos e agregados. Posso estar sendo extemo, mas que sonho seria ter uma classe política que tivesse orgulho de parafrasear o capitao Nascimento: "Porque aqui nós nao gostamos de políticos corruptos..." e que estivesse apta e disposta a limpar a qualquer custo as "sementes do mal" da política brasileira.

Como foi bom ver uma instituicao pública brasileira honesta e eficiente mesmo numa obra de ficcao. Como foi bom ver marginal tendo medo da polícia em vez da populacao tendo medo de marginal, que é o que sempre acontece. Os números que temos da guerra contra o crime se igualam ao de qualquer conflito bélico, só os políticos nao percebem. Mas agora vao perceber,
pois a base de dados sobre mortes do Brasil, o DataSUS, do Ministério da Saúde, iniciada em 1979, apontará um número de homicídios acumulado nessas três décadas bem próximo de 1 milhão. Só pra se ter uma idéia a Angola levou 27 anos para atingir essa marca, mas estava oficialmente em guerra civil.

Hoje vou mostrar o filme para o meu grupo de pesquisa, todos europeus, já até sei as reacoes e opinioes. "Esse filme é mesmo baseado em fatos reais?" "É assim mesmo Leandro?" "É amigos, eu apresento a vcs o Brasil." "Impressionante!" "Eu nunca vou morar no Brasil..." "A vida nao vale nada la"

Além disso sei que todos vao desaprovar os métodos do BOPE, nao sao civilizados tenho que concordar e eles moram num continente em sua maioria civilizado, mas o que eles nao sabem e muitos de nós brasileiros nos fazemos de desentendidos é que o Brasil nao é um país civilizado.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Mulher de Malandro

Apesar do Brasil ser o que é sempre me dá um aperto no coracao enorme ter que deixá-lo, em especial minha capital com aspectos de interior. É o conjunto terra, clima e as pessoas que fazem parte dela.

Com a terrível saudade que ia crescendo com a distancia durante a viagem de volta pra Alemanha, pensei em escrever sobre o fato de amar algo que além de nao me corresponder, ainda maltrata. Como de costume dei uma pesquisada na internet pra ver se outrem ja nao tinha tido a mesma idéia que eu, e com um mixto de alegria e frustracao foi justamente esse o caso, ou seja, achei um post de alguem que usou esse mesmo título pra expressar mais ou menos o que eu queria dizer (aqui) .

Apesar disso nao vou me render pois o título é bastante apropriado.

Eu sou alguem que vive à luz da ciencia e preciso de respostas no mínimo bem argumentadas, mas pra certas coisas ainda nao consegui achar bons argumentos e nao adianta dizer que amor pela pátria é o mesmo que amor de mae, que me desculpe o post homonimo mas pra mim isso nao é um bom argumento.

Como entender o meu amor por:

Uma terra injusta e violenta, de classe política estúpida, ignorante, corrupta e incompetente?

Um país que me dá vergonha e embarasso grande parte do tempo?

Uma terra onde 75% da populacao pode ser considerada analfabeta mas onde 84% declaram estar satisfeitos ou muito satisfeitos com o ensino público (Pesquisa do ibope)?

Uma terra onde 96% desconhecem o significado do termo holocausto mas 37% repudiam a idéia de ter um vizinho judeu (Pesquisa do ibope)?

Uma terra onde somente 40% da populacao é atendida pela rede de esgotos mas mesmo assim 83% dizem estar satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida (Pesquisa do ibope)?

Essa última define bem o que eu sinto. A gente nao recebe nem o mínimo do aparato público, convive com pessoas grossas ignorantes e sem respeito, vive com medo do crime, mas continua se achando satisfeito, continua gostando, continua sentindo falta e querendo voltar. Eu sou assumidamente mulher de malandro, e o meu malandro é o Brasil. Para os homofóbicos de plantao me refiro ao conceito, se tratando de mulher malandra o sentimento já é o inverso e as respostas e argumentos bem embasados.

Ainda busco respostas. O que eu já sei é que apesar disso, quando (se) eu voltar, vou continuar maldizendo o Brasil em qualquer roda de conversa, me revoltando com as mesmas barbaridades e injusticas e etc... mas vou tá morto feliz com a brisa e o barulho do mar, com as pessoas simples, alegres e hospitaleiras, com a música e comida e com o caos nem sempre simpático das ruas e avenidas.