Recebi um email recentemente do meu grande amigo e grande economista Sr. Fozzie com um artigo da revista "The Economist" em anexo, que merece ser divulgado. Abaixo, uma visão de fora, talvez não tão turística, mas nem por isso menos verdadeira, da nossa realidade como maranhenses.
Obs.: Notem que o artigo abaixo é uma tradução livre minha, o artigo original pode ser acessado aqui. Também aconselharia uma espiadinha aqui, onde o Ivan Lessa da BBC Brasil vai um pouco além de traduzir partes do artigo.
Um chefão da política brasileira
Onde os dinossauros ainda vagueiam
Uma vitória para o semi-feudalismo
JOSÉ SARNEY foi eleito pela primeira vez (deputado federal) há quase meio século. Nos últimos 40 anos ele controlou a fortuna do Maranhão, um estado na parte mais oriental da região amazônica. Ele representou o estado como deputado federal (duas vezes), governador e senador (duas vezes). Em 1985 ele se tornou o acidental e indistinto presidente do Brasil, quando o candidato eleito (Tancredo Neves) faleceu antes de poder exercer o cargo. Mais recentemente ele foi o senador do Amapá (duas vezes). Tempo de se aposentar, alguém pode pensar.
O Sr. Sarney parece um retrocesso à uma era de semi-feudalismo político que ainda prevalece em algumas regiões do Brasil e arrasta o resto para trás. Apesar disso, e com o tácito apoio de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente centro-esquerdista do país, o Sr. Sarney foi escolhido para presidir o senado nacional. É a terceira vez em sua carreira que ele empossa esse poderoso cargo, o qual lhe confere um certo grau de controle sobre a agenda do governo e abre oportunidades para tráfico de influência.
E assim se sustenta o domínio do Sr. Sarney sobre o Maranhão, justamente quando alguns acreditavam que ele já estava chegando ao fim. O centro de São Luís, capital do estado, é decrépito. Alguns prédios históricos são bem cuidados, tais como a iluminada igreja branca da nossa senhora do desterro. Mas a maioria está sucumbindo no calor húmido da cidade. As ruas são repletas de buracos. Um extraordinário número de pessoas passa o dia em estacionamentos públicos na esperança de conseguirem alguma esmola em troca de indicarem lugares para estacionar. Numa cidade de 1 milhão de pessoas, houve 38 assassinatos só no mês passado.
Mas é fora de São Luís onde o retrocesso do Maranhão é mais evidente. Em Sangue, uma cidade no interior do estado, muitas pessoas vivem em casas de um só cômodo, cobertas com folhas de palmeiras, sem água encanada e eletricidade. Transporte público é escasso. Não há muito para se comprar ou vender além de bacuri, uma fruta amazônica. O sistema educacional do Estado é precário. A taxa de mortalidade infantil é de 39 para cada 1000 nascimentos vivos e está 60% acima da média brasileira.
O domínio político por uma única pessoa ou família não é incomum no nordeste do Brasil. Mas isso está começando a mudar. O clã da família Sarney está se tornando atípico. A filha do Sr. Sarney, Roseana, foi governadora do Maranhão e atualmente representa o estado no senado. Seu filho foi ministro no mandato anterior do governo. Outros parentes e relativos possuem empregos nas cortes e serviços públicos do Maranhão. Um dos tenentes do Sr. Sarney, Edison Lobão, é o ministro de Lula para minas e energia. Quando ele assumiu o ministério, o cargo antigo do Sr. Lobão no senado nacional foi para o seu filho. Todos os três senadores do Maranhão respondem ao Sr. Sarney, assim como os seus companheiros senadores do Amapá.
Esse controle é facilitado pelo fato da família Sarney possuir a maior empresa de comunicação do Maranhão. A estação de televisão transmite programas da Globo, a qual produz as novelas mais populares do Brasil. Essas são intercaladas com notícias floreadas sobre a família Sarney. O controle sobre estações de rádio e televisão é particularmente importante na zona rural do Maranhão, onde a maioria dos eleitores é analfabeta e portanto onde os Sarneys conseguem a maioria dos seus votos. "Nós somos dominados por uma oligarquia eletrônica", lamenta Zé Reinaldo, o governador anterior.
Mesmo assim, o poder da família pode estar finalmente enfraquecendo. Em 2006 Roseana Sarney perdeu as eleições para o atual governador Jackson Lago, o qual está sendo, juntamente com seus deputados, investigado por crimes eleitorais. Se eles forem cassados, a Sra. Sarney vai assumir o governo mais uma vez. Nas eleições municipais do ano passado, os candidatos dos Sarneys sofreram várias derrotas. "Sarney sempre diz que o Maranhão precisa votar nele de forma que ele possa trazer dinheiro de Brasília", diz Arleth Santos Borges da Universidade Federal do Maranhão. "De fato, ele precisa de poder em Brasília para ter poder aqui". E é exatamente isso que a presidência do Senado lhe traz.
Enquanto isso o Maranhão vai seguindo o seu triste caminho. "Por quinze anos eu escuto Sarney dizer que ele vai trazer turismo e desenvolvimento para o Maranhão, mas nós continuamos a ter uma única rodovia para entrada e saída dessa cidade", diz Hélio, um garçon em São Luís. "E ambas são uma bagunça."
Obs.: Notem que o artigo abaixo é uma tradução livre minha, o artigo original pode ser acessado aqui. Também aconselharia uma espiadinha aqui, onde o Ivan Lessa da BBC Brasil vai um pouco além de traduzir partes do artigo.
Um chefão da política brasileira
Onde os dinossauros ainda vagueiam
Uma vitória para o semi-feudalismo
JOSÉ SARNEY foi eleito pela primeira vez (deputado federal) há quase meio século. Nos últimos 40 anos ele controlou a fortuna do Maranhão, um estado na parte mais oriental da região amazônica. Ele representou o estado como deputado federal (duas vezes), governador e senador (duas vezes). Em 1985 ele se tornou o acidental e indistinto presidente do Brasil, quando o candidato eleito (Tancredo Neves) faleceu antes de poder exercer o cargo. Mais recentemente ele foi o senador do Amapá (duas vezes). Tempo de se aposentar, alguém pode pensar.
O Sr. Sarney parece um retrocesso à uma era de semi-feudalismo político que ainda prevalece em algumas regiões do Brasil e arrasta o resto para trás. Apesar disso, e com o tácito apoio de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente centro-esquerdista do país, o Sr. Sarney foi escolhido para presidir o senado nacional. É a terceira vez em sua carreira que ele empossa esse poderoso cargo, o qual lhe confere um certo grau de controle sobre a agenda do governo e abre oportunidades para tráfico de influência.
E assim se sustenta o domínio do Sr. Sarney sobre o Maranhão, justamente quando alguns acreditavam que ele já estava chegando ao fim. O centro de São Luís, capital do estado, é decrépito. Alguns prédios históricos são bem cuidados, tais como a iluminada igreja branca da nossa senhora do desterro. Mas a maioria está sucumbindo no calor húmido da cidade. As ruas são repletas de buracos. Um extraordinário número de pessoas passa o dia em estacionamentos públicos na esperança de conseguirem alguma esmola em troca de indicarem lugares para estacionar. Numa cidade de 1 milhão de pessoas, houve 38 assassinatos só no mês passado.
Mas é fora de São Luís onde o retrocesso do Maranhão é mais evidente. Em Sangue, uma cidade no interior do estado, muitas pessoas vivem em casas de um só cômodo, cobertas com folhas de palmeiras, sem água encanada e eletricidade. Transporte público é escasso. Não há muito para se comprar ou vender além de bacuri, uma fruta amazônica. O sistema educacional do Estado é precário. A taxa de mortalidade infantil é de 39 para cada 1000 nascimentos vivos e está 60% acima da média brasileira.
O domínio político por uma única pessoa ou família não é incomum no nordeste do Brasil. Mas isso está começando a mudar. O clã da família Sarney está se tornando atípico. A filha do Sr. Sarney, Roseana, foi governadora do Maranhão e atualmente representa o estado no senado. Seu filho foi ministro no mandato anterior do governo. Outros parentes e relativos possuem empregos nas cortes e serviços públicos do Maranhão. Um dos tenentes do Sr. Sarney, Edison Lobão, é o ministro de Lula para minas e energia. Quando ele assumiu o ministério, o cargo antigo do Sr. Lobão no senado nacional foi para o seu filho. Todos os três senadores do Maranhão respondem ao Sr. Sarney, assim como os seus companheiros senadores do Amapá.
Esse controle é facilitado pelo fato da família Sarney possuir a maior empresa de comunicação do Maranhão. A estação de televisão transmite programas da Globo, a qual produz as novelas mais populares do Brasil. Essas são intercaladas com notícias floreadas sobre a família Sarney. O controle sobre estações de rádio e televisão é particularmente importante na zona rural do Maranhão, onde a maioria dos eleitores é analfabeta e portanto onde os Sarneys conseguem a maioria dos seus votos. "Nós somos dominados por uma oligarquia eletrônica", lamenta Zé Reinaldo, o governador anterior.
Mesmo assim, o poder da família pode estar finalmente enfraquecendo. Em 2006 Roseana Sarney perdeu as eleições para o atual governador Jackson Lago, o qual está sendo, juntamente com seus deputados, investigado por crimes eleitorais. Se eles forem cassados, a Sra. Sarney vai assumir o governo mais uma vez. Nas eleições municipais do ano passado, os candidatos dos Sarneys sofreram várias derrotas. "Sarney sempre diz que o Maranhão precisa votar nele de forma que ele possa trazer dinheiro de Brasília", diz Arleth Santos Borges da Universidade Federal do Maranhão. "De fato, ele precisa de poder em Brasília para ter poder aqui". E é exatamente isso que a presidência do Senado lhe traz.
Enquanto isso o Maranhão vai seguindo o seu triste caminho. "Por quinze anos eu escuto Sarney dizer que ele vai trazer turismo e desenvolvimento para o Maranhão, mas nós continuamos a ter uma única rodovia para entrada e saída dessa cidade", diz Hélio, um garçon em São Luís. "E ambas são uma bagunça."